terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

História de amor no campo de concentração

                                     

          Manhã fria de 1942. Em um campo de concentração nazista, Shimon olha através de uma cerca de arame farpado e vê uma jovem linda como a luz do sol, seu nome é Anne. A garota também o vê e seu coração pula como um cabrito perseguido por um enxame de abelhas. Ela quer expressar seus sentimentos e atira uma maçã vermelha pela cerca. A maçã lhe traz vida, esperança e amor. Shimon a recolhe e um raio de luz ilumina seu mundo obscuro. Ele não dorme aquela noite. O rosto angelical e o sorriso tímido de Anne vêm à sua lembrança.

             No dia seguinte, tem uma vontade louca de tornar a vê-la. Aproxima-se outra vez da cerca e, para sua surpresa, vê Anne de novo. Ela aguarda a chegada misteriosa do jovem que tocou seu coração. Ali está ela, com outra maçã vermelha na mão.

          Faz muito frio. O vento gelado sopra, produzindo um lamento triste. Apesar disso, dois corações se aquecem pelo amor enquanto as maçãs atravessam a cerca. O incidente se repete vários dias. Dois jovens, de lados opostos da cerca, buscam um ao outro. Só por um momento. Apenas para trocar olhares ternos. O encontro é chama que arde. O sentimento inexplicável de ambos é o combustível.

              Certo dia, ao fim desses momentos doces, Shimon lhe diz com expressão triste:

            ─ Amanhã não me traga a maçã. Não estarei mais aqui; vou ser enviado para outro campo de concentração.

            Aquela tarde o rapaz vai triste, com o coração partido. Talvez nunca mais volte a vê-la.

            Desde aquele dia, a imagem linda da doce jovem aparece em sua mente em momentos de tristeza. Seus olhos, as poucas palavras, a maçã vermelha. Para ele, tudo é alegria na tristeza. Sua família morre na guerra. Sua vida é quase destruída, mas nos momentos mais difíceis a imagem da jovem de sorriso tímido lhe traz alegria, alento e esperança.

            Os anos passam. Um dia, nos Estados Unidos, dois adultos se conhecem por acaso em um restaurante. Conversam da vida. Falam de seus encontros e desencontros.
  
                                      


             ─ Bem, onde você esteve durante a guerra? - pergunta a mulher.

              ─ Estive em um campo de concentração na Alemanha - responde o homem.

            ─ Eu me lembro de que jogava maçãs através da cerca a um jovem que também estava no campo de concentração - recorda a mulher.

            Com o coração aos saltos, quase lhe saindo pela boca, o homem balbucia:

            ─ E este jovem lhe disse um dia: "Amanhã não me traga a maçã, porque que vão me levar para outro campo de concentração"?

            ─ Sim - ela responde, pressentindo algo maravilhoso.  ─Mas como você pode saber isso?

            Ele a olha nos olhos, como se olha para uma estrela, e lhe diz:

            ─ Eu era esse jovem.

            Silêncio. Tantas lembranças, tanta saudade, tanta esperança de voltar a vê-la! As palavras quase não lhe saem, mas continua:

            ─ Separaram-me de você um dia, mas nunca perdi a esperança de voltar a vê-la. Quer se casar comigo?

            Abraçam-se bem forte, enquanto ela sussurra em seus ouvidos:

            ─ Sim, claro que sim, mil vezes sim.


            Os nomes dessa história são fictícios, porém a historia é real. No Dia dos Namorados em 1996, numa transmissão nacional do programa de Oprah Winfrey, esse mesmo homem confirmou seus 40 anos de amor pela esposa: Você me alimentou em um campo de concentração, me alimentou de esperança ao longo dos anos. Agora eu continuo com fome, mas apenas com fome de seu amor”.


Referência Bibliográfica

HALBERTAM, Yitta e LEVENTAL, Judith. Pequenos Milagres: Coincidências extraordinárias do dia a dia. Ed. Sextante, 1998.


Um comentário:

  1. Nossa que história digna de um bom filme! (se é que já não possua)
    Muito bom você ter postado tal história =D

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