Nota do Blog: Pe.
Francisco é um homem muito afável e carinhoso, mas não deixou que eu gravasse a
entrevista, pois os monges trapistas são muito reservados e possuem uma vida
mais contemplativa. Pedimos que as pessoas que desejam saber mais sobre sua
vida que respeitem o pedido dele, bem como seu estilo de vida monástico, e tentarei ao máximo clareza nas informações.
Pe. Francisco durante nossa entrevista informal |
Por ocasião
de um retiro de silêncio que fiz no mosteiro trapista em Campo do Tenente, PR,
encontrei um simpático padre que possuía uma incrível história.
Símbolo da USAAF |
Nasceu aos
10 de maio de 1923, na cidade de Filadelfia, estado norte-americano da
Pensilvânia, sob o nome de Francis Joseph Dietzler. Seus pais, também nascidos
nos EUA, tinham antepassados entrangeiros: o pai, de origem alemã; a mãe, de
origem irlandesa.
Era
estudante de contabilidade, quando em março de 1943 foi chamado pelo serviço
militar dos EUA. Trancou a faculdade e alistou-se na USAAF (United States Army
Air Forces – Forças Aéreas do Exército dos Estados Unidos), e foi remanejado
como operador de rádio.
Seu
trabalho de operador foi em um dos famosos aviões Boeing B-17, que eram
apelidados de “Fortaleza Voadora.” O avião onde operou tinha base na
Inglaterra, possuía 9 tripulantes e fez missões de bombardeios na Alemanha. Ele
recorda-se de 30 missões.
Modelo de um Boeing B-17 |
Sua última missão
foi no dia 2/11/1944. O avião onde estava sofreu um ataque de aviões alemães,
onde foi ferido no pulmão direito e costelas. O avião começou a incendiar-se e
a tripulação precisou pular de paraquedas: um salto de 10 mil metros, em pleno
fogo cruzado e ainda caindo em solo inimigo.
Aterrissando,
ferido, foi capturado como prisioneiro de guerra pelos nazistas e ficou
encarcerado por 6 meses, mas desse tempo 4 meses foram passados em diversos
hospitais militares. Disse que foi bem cuidado nesses locais. Os últimos dois
meses de sua prisão foi num campo de prisioneiros militares próximo a
Nuremberg. Padre Francisco recorda que as condições alimentares e higiênicas no
campo eram escassas.
O campo
onde estava preso foi libertado por tropas do exército dos EUA no dia
29/04/1945, um dia antes do suicídio de Adolf Hitler.
Exemplo da condecoração "Purple Heart" |
Francis foi
dispensado do serviço militar em outubro de 1945. Começou a namorar e terminou
a faculdade de contabilidade. Foi condecorado com o Purple Heart (Coração de
Púrpura), por ter sido ferido de guerra.
Porém, o
coração de Francis Joseph pendia para uma radical decisão: a vida religiosa.
Seus pais, muito católicos, o apoiaram em sua decisão. Fez uma preparação de
latim, terminou com a namorada e iniciou um acompanhamento com os monges da
Ordem Trapista (Ordem Cistercience da Estrita Observância). Em junho de 1951
entrou finalmente na Abadia de São José (Saint Joseph’s Abbey), que fica
localizada em Spencer, Massachusetts. Lá professou os primeiros votos
religiosos em agosto de 1953 e os votos solenes em setembro de 1956. Foi
ordenado padre em dezembro de 1957.
Saint Joseph's Abbey, onde Francis professou os votos religiosos como monge trapista e foi ordenado padre em 1957. |
Junto com
outros monges trapistas, veio para o Brasil em 1977, primeiramente para a
cidade de Lapa, no Paraná, transferindo-se depois em 1982 para o município de
Campo do Tenente, no mesmo estado, onde reside até hoje. É um dos padres
hospedeiros do local: recebem os hóspedes que vem fazer retiro de silêncio ou
mesmo passar o dia ali, e atende confissões e direção espiritual.
Vista aérea da Abadia Nossa Senhora do Novo Mundo, em Campo do Tenente, PR, onde Pe. Francisco reside atualmente |
Padre Francisco celebrando a missa matutina na capela da Abadia Trapista |
No final da
minha conversa com ele, fiz algumas perguntas de cunho mais pessoal, que ele
ficasse livre para responder. Me disse que viu a Segunda Guerra como justa: “Hitler
era um pouco louco.”, afirmou fazendo um sinal com os dedos e apontando para a
cabeça. “O povo apoiou pois os Estados Unidos foram atacados”, com relação ao
ataque dos japoneses em Pearl Harbor.
Padre
Francisco possuiu pequenos pedaços de metal penetrados na costela, sua única
sequela de guerra. Quando vai fazer algum exame de radiografia, o médico ou
enfermeiro sempre pergunta o que há ali nas suas costelas direitas.
Quando
estávamos saindo da sala de atendimento, perguntei a ele se ele ficou
traumatizado, ou sentiu medo. Ele me disse que durante o salto de paraquedas
ficou com muito medo e durante alguns bombardeios que fizeram também. E quando
fechou a sala, olhou para mim e disse assim, com seu sotaque arrastado: “Não
tenho traumas da guerra. A vida cristã nos ajuda a superar os traumas.”
O autor deste blog e o Padre Francisco José Dietzler, após o bate papo
sobre a Segunda Guerra. Vê-se nele claramente o rosto resplandescente
de um homem muito feliz, segundo o coração de Deus.
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Que interessante! A religião pode de fato muitas vezes ser um conforto.
ResponderExcluirMuito bom a entrevista , Interessante mesmo.Parabéns!
ResponderExcluirMuito legal, Nahor, adorei!
ResponderExcluirExperiências profundas entre morte e vida!
ResponderExcluirinteressante ele estava bombardeando a alemanha e quando seu avião foi derrubado ao inves de morto foi mandado ao hospital e curado. Ele diz numa entrevista que é muito grato por isso.Quem será que foram os monstros e loucos Da 2 guerra? A historia é contada pelos vencedores
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