quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Giana, Amilcar, Zé e você - o problema da cultura de Itajaí é político

Fonte: Roberta Sabino (facebook)

O filósofo grego Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), no livro 1 de sua obra Política cunhou uma expressão interessante. Ele dizia que o homem comum era um "animal político" (Zóon politikon). Por que isso? Pois ele, como todo bom grego antigo, não via nada fora da pólis (cidade-Estado). O ser é aquilo que ele se mostra em sociedade. Ele é como ele age politicamente.

Apesar dessa concepção de Aristóteles não dar conta da complexidade humana, ela é interessante para analisarmos fatos sociais, inclusive algumas situações que vem ocorrendo ao longo de alguns anos na cidade de Itajaí. Quero aqui centrar-me no caso envolvendo a cantora Giana Cervi, interrompida em seu show de modo brusco pelo ex-prefeito Amílcar Gazaniga (PP), que era um dos responsáveis pela organização da Regata Transat Jacques Vabre e da Aventura pelos Mares do Mundo. Segundo a organização do evento, a interrupção do show foi por questões de segurança.

Certamente Aristóteles se escandalizaria ao ver a atitude. Ele provavelmente olharia para o ex-prefeito e diria que ele simplesmente não sabe viver em sociedade. O pior é que se você tem amizade com um político desse nível, dentro da concepção aristotélica, você concorda com suas atitudes. Pois não existe essa coisa de "separo a política da amizade." Ele é o que ele se mostra.

Não é de se esperar muito deste ser político. Ele, que possui uma vasta carreira dentro da política brasileira (para quem não sabe, ele foi até presidente dos Correios), foi eleito prefeito de Itajaí em 1977 pelo partido ARENA. Isso mesmo, o partido da situação da Ditadura Militar. Deixo para livre interpretação agora dos leitores.

Nossa querida cidade, dominada intelectualmente por um grupo oriundo da ARENA (o PP é o sucessor da ARENA, assim como o DEM e o PSD, cisões posteriores) só perdeu em todos esses anos. Vejam os prédios históricos de nossa cidade, jogados ao léu e muitos destruídos naturalmente pelo terrível tempo.

Rua Pedro Ferreira, prédios antigos, que logo cairão. Não existe
projeto de tombamento para o local (que poderia ter um centro
histórico, sim, Itajaí, uma cidade de suma importância sem um
centro histórico). Um pouco antes, há um prédio antiquíssimo
onde funciona um prostíbulo. Lamentável. (Foto: arquivo pessoal)

É a política do Regime Militar ainda implantada em nossa cidade. Assim como o ex-prefeito Amílcar se comportou, vários se comportam do mesmo modo autoritário e censurante. Assim como mais um filiado do PP, o vereador José Alvercino Ferreira, que em sua verborragia doente, na sessão da Câmara de Vereadores do dia 3 de dezembro de 2013, disse em alto e bom som que o ex-prefeito "(...) devia ter tirado a tomada, dobrado em dois e dado nas costas dela, pra aprender." Se tiver dúvidas, assista o vídeo aqui. Uma expressão de cunho machista, incitação ao ódio e à violência, oriunda da boca de um parlamentar em mandato no período democrático. Um escândalo total!

Fonte: Diarinho de 5/12/2013

Enquanto tivermos esses seres políticos na nossa pólis, nossa cidade continuará a ver cenas até piores como essa. Nossos prédios históricos cairão e somente contará a história as elites dominantes. É compreensível, pois a arte e a cultura são os únicos caminhos livres da humanidade, e as grandes ditaduras sempre as calaram para tentar dominar as mentes da população.

Alegro-me em ver que algumas vozes culturais urgem contra esse modelo político terrorista de Estado que machuca nossa amada Itajaí. Essas pessoas devem sim ser colocadas para fora da vida política da cidade, nem que para isso uma revolução aconteça. Quem sabe assim, a ética de Aristóteles, a busca pelo bem comum, possa se instaurar em Itajaí e faça florescer novos e excelentes animais políticos!


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