“Quando cheguei a El Abiod Sid
Seik para o noviciado, meu mestre dissera-me com toda a calma de um homem que
já passara vinte anos no deserto: ‘Il fautfaire une coupure, Charles.’ 1
Compreendi
o significado daquela frase e decidi realizar o corte, ainda que doloroso.
Conservara
na mala um caderno espesso no qual estavam anotados os endereços dos meus
velhos amigos: haviam milhares.
Em sua
bondade, o Senhor jamais me deixara faltar a alegria da amizade e a barca de
minha vida navegava através de um rio de amor.
Se no
momento de minha partida para a África levava comigo um pesar oculto, era
certamente o de não poder falar com cada um deles, explicar-lhes a razão do
abandono, dizer-lhes que estava obedecendo a um chamado claro de Deus e que,
embora de outra trincheira, prosseguiria a militar com eles no campo do
apostolado.
Mas era
preciso levar a termo a famosa ‘coupure’, e fi-lo corajosamente e com grande
confiança em Deus.
Tomei o
caderno, que era o meu último liame com o passado, e por ocasião de um retiro
queimei-o atrás de uma duna.”
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1 Traduz-se do francês: "Precisamos fazer um corte, Charles."
Referência Bibliográfica
CARRETO, Carlos. Cartas
do Deserto. São Paulo, Paulinas, 1974, pp. 9-10.
Belo texto!
ResponderExcluirC'est vrai . Il faut toujours faire de coupure dans la vie pour avoir encore la VIE.
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