segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Exaltação da Santa Cruz

             

          O relato carece de fontes mais fidedignas, pois não pude fotografar  os momentos descritos. Ficará apenas a fonte da oralidade e a imaginação do leitor.
            Hoje, 14 de setembro, festa católica da Exaltação da Santa Cruz, fomos convidados pelos padres na missa das 7h para um retiro diferenciado. Após o café da manhã, levar água, umas frutas, Bíblia e algo pra anotar, e sair de casa. Ir onde quisesse. Desinstalar-se. Não levar celular, e voltar pelas 16h. Refletir o mistério da Santa Cruz.
            Depois de rezar na Igreja Matriz de Brusque pela manhã, por volta das 11h, parei defronte a um estabelecimento alimentício e fiquei ali observando. Um casal trabalhando no balcão. O homem me cumprimentou. Mas eles, de origem estrangeira, iniciaram um diálogo em outra língua, que apesar de identificar qual era, não compreendia os termos. Ele parecia brigar com ela. Pensei que fosse uma suposição minha, mas então, indiferente à minha e outras presenças ali próximas, o homem esbravejava com ela, chegando a apontar para a mulher a faca com a qual estava cortando os alimentos. O silêncio e a lágrima que rolou pelo rosto da mulher me confirmou a discussão. Prometi a mim mesmo que jamais iria um dia almoçar naquele estabelecimento, nunca compactuarei com uma atitude machista.
            Após almoçar algumas frutas, dirigi-me à Biblioteca Pública. Ali haviam alguns sofás que eu pudesse relaxar um pouco. Depois de alguns minutos, próximo a mim, sentou-se uma mulher chorando. Olhava para o celular, talvez para espairecer sua mente ou até mesmo receber algo que pudesse a agradar. Observei-a por alguns minutos. Não esboçava sorriso, passos lentos onde pegou uma revista sobre saúde para ler.
            Saí da Biblioteca rumando para a Praça da Cidadania, a fim de continuar leituras espirituais. Muitos jovens, pessoas sentadas com seus smartphones acessando a internet grátis disponibilizada na praça. Um grupo ali parecia destoar: jovens estudantes, conversando entre si. Um deles tocava violão. O grupo começa a caminhar, mas uma das integrantes fica pra trás e pega seu celular. Uma lágrima vem no seu rosto. O amigo que está com o violão acena para ela à distância, como querendo que ela novamente se integre. Ela caminha lentamente, o rosto denunciando sua tristeza pelo que acabou de ver no celular.

            3 mulheres, 3 cenas, 3 cruzes. Percebi pelo feminino mais facilmente as cruzes do que pelos masculinos. Estes últimos as têm, mas sabidamente sei como  somos duros para demonstrar coração ferido,  e quando demonstramos, o  fazemos de modo imaturo ou explosivo. O feminino denuncia a cruz e a ressurreição mais facilmente pelo olhar, pela complacência do rosto, pelo suave gesto.
            Como disse o padre pela manhã, era necessário um desinstalar-se. Foram 3 cenas onde me senti desinstalado. Sem perspectiva de ação plausível a tomar diante daqueles fatos. Posso estar profundamente enganado quanto à tristeza daquelas 3 mulheres, mas ao remeter-me ao episódio do Crucificado, recordo que o centurião, ao ferir próximo do Coração, saiu daquele corpo ali morto sangue e água. Toda lágrima brota da profundidade de um coração. 3 corações doloridos, com seus motivos secretos, que provavelmente não tornarei a ver.

            Minha oração de conclusão do dia, já em nossa casa, diante do Santíssimo, foi de total entrega daqueles corações e do meu. De firmar meu compromisso de espalhar o Amor a fim de reparar essas cruzes que vamos encontrar diariamente. De me abastecer desse Amor para reparar minhas próprias cruzes.

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