quarta-feira, 26 de julho de 2023

Diante do fim

                                      

              Estou com câncer. Se chama dermatofibrosarcoma protuberans. É bem raro. No meu caso, ele está nas costas, na parte interna. Terei de realizar uma cirurgia delicada em breve. Essa situação me vem acompanhando há algum tempo e eu não sabia. Somente quando tirei uma parte do suposto tumor que vem me doendo desde o ano passado é que veio o diagnóstico após uma biópsia. 

             Dei um tempo das redes sociais. De todas. Algumas eu deletei, outras tirei o aplicativo. Parei de escrever. Apenas me dedico ao trabalho e à família. Não sei o que me espera em breve. No momento, as dores me acompanham, como num compasso musical, fazendo das minhas costas uma partitura para sua lenta e agoniante música.

                E nessa ausência virtual me percebi sozinho. Eu, que sempre chamava os amigos para conversar, parei de fazê-lo. E a resposta foi o silêncio. Ninguém notou minha ausência. Vi que não era tão especial assim como eu pensava para as pessoas. Ou talvez eu tenha errado na minha vida social, a ponto das pessoas realmente terem se aliviado da minha falta. Tanto que acredito não ter leitores para essas linhas, e, mesmo que alguém leia, dificilmente irá entrar em contato comigo.

               Por isso, no fim, sempre seremos só nós. O eu e o eu. Nascemos de um encontro, mas morremos no desencontro. A tal da empatia é apenas um conceito usado para aliviar as pessoas de uma culpa, pois ninguém realmente sabe da dor. É só aquele que sente.

                O título dessa reflexão, Diante do fim, é uma  alusão ao título de meu primeiro livro. Essa frase sempre me chamou a atenção. Desde o nascer, o fim nos acompanha. Na verdade, ele é uma espera constante, onde um pequeno cair de ombros, um deslize, um descuido, o recebe.




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